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domingo, 23 de março de 2014

Marcha


Tem protesto lá na esquina democrática
Me convidaram
Não vou
Eu sou bundão
Alienado
E covarde
Estou cagando e andando

Protesto em casa
Fazendo sexo

Os miliquinhas
Continuarão abusando
O Zé não vai parar de gritar
Vai ficar tudo na mesma merda

Algum fulano
Até vai ocupar novamente
Os painéis de controle do poder
Mas não irá desligá-los.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Tô preocupado com o preço do tomate, e também do parmalat



Esse furdunço
Que me acorda todo dia
Sempre a mesma tropelia
Essa veia a latejar

Eterna orgia
Me acompanha no caminho
E me aperta o colarinho
Bate-ponto e robotar

(tô preocupado com o preço do tomate
e também do parmalat)

Esse espinho
Que não sai do meu sapato
E essas caras de retrato
Só me querem açoitar

Tão abstrato
Esse salário mixaria
E não me vem com dinastia
Para me piramidar

(tô preocupado com o preço da colgate
e também do mertiolate)

Essa arrelia
No transporte coletivo
Ouvindo funk convulsivo
Que não pára de ostentar

Enjoativo
Esse escangalho que me embala
E que a meus olhos arregala
O tic-tac a despertar.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Bikini girl with a machine gun

Estava tudo muito bem
até que ela puxou da gaveta
uma pistola automática

Eu a havia conhecido
no Circus,
bar frequentado
por toda espécie de junkies,
marginais e psicopatas
injetava heroína
numa mesa cheia de garrafas
sob o vermelho do neon
ofereceu-me um pouco
e lá estava eu
em seu apartamento

Quer minha grana, perguntei,
não, ela disse, só quero te ver morrer.
Oh merda, pensei, essa com certeza
é a mulher mais maluca que já
encontrei

Tudo tem seu limite
e louco de amilas que eu estava
cheguei bem perto
mandei-a que atirasse
no meio da minha testa
a vadia titubeou
desferi-lhe um soco no rosto
um disparo se fez
acertando
uma imitação vagabunda de Monet
apagou

Achei melhor ir embora
vesti minhas roupas
peguei sua pistola

Sirenes tocavam
e no rádio
uma canção insuportável,
alguém tocando trombeta
cheirei um pouco de éter
cuspí-lhe a buceta.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Velho

às vezes me vejo velho assim
encarando essas paredes sujas
mendigando amor
mentindo pra mim mesmo
tomando café numa xícara suja

às vezes me vejo velho assim
podre de bêbado
numa terça-feira
escrevendo poemas, sozinho,
ouvindo aquele disco do Fellini

às vezes me vejo velho assim
de saco cheio com o resto do mundo
mandando tudo à merda
sem vontade de levantar
com fome e abandonado

às vezes me vejo velho assim
amigos mortos
desejos afogados
a negação
o caos
o fim.

domingo, 14 de julho de 2013

O cheiro dela já saiu da minha cama

o cheiro dela
já saiu da minha cama
e ainda não encontrei
sua pulseira

a última coisa
que ela me disse
foi que eu era
um escritor bagaceiro,
bêbado e fudido

faz sentido

relacionamentos descartáveis
redes antissociais

a raça humana
continua me decepcionando
e o meu maior problema
é que faço parte dela.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Prognóstico para o fim da noite

filosofia de quinta
um quarto barato
um terço de bíter
metade de um vinho
um tédio colossal

(espero estar enganado
as estatísticas podem falhar
da mensagem enviada
ao toque do telefone).